Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sábado, 15 de fevereiro de 2014

3157. Ridendo castigat mores

Aqui fica um esclarecimento que já devia ter feito. Mais vale tarde do que nunca.

A minha intervenção na Net, teve início em 23 Julho 2003 no blog “Sítio do Ruvasa”, que sou eu e, embora tendo abarcado sempre os mais variados aspectos da vida em sociedade, centrou-se mais nas questões políticas.

E, claro, tinha grande tendência para escritos longos e, consequentemente chatos para quem os lia (se é que os lia…), embora, do meu ponto de vista, míope como são os de qualquer mortal em causa própria, fossem de qualidade.

Assim andei uns anos, até que concluí que – não obstante não poder, nem querer, abandonar esse tipo de intervenção social e política (sim, porque o que faço não tem apenas intenção lúdica, muito embora ponha muito disso em tudo, caso contrário já estaria muito mais louco do que estou…) – não podia ficar-me por ali porque seria estar a dialogar e a argumentar apenas comigo próprio, o que era uma enorme chateza e um interminável bocejo.

Criei então o mural no Facebook e, depois de umas quantas cabeçadas que fizeram com que tivesse de aturar aqueles gajinhos que, na sociedade portuguesa, estão convictos de que são os depositários dos valores de cultura, de saber de democracia e etc. e tal, de que tive de afastar-me para não ficar um cretino como eles ou uma mastronça como elas, lá acabei por me fixar num outro ambiente em que me senti bem e onde permaneço, com gente de todos os ambientes, de todos os saberes, de todos os graus, enfim, gente!

E continuei a escrever textos mais ou menos longos, com pretensões a masterpiece (sim, daquelas masterpieces que muito poucos têm pachorra para ler, quanto mais para acerca deles meditar). Até que, em dia de particular clarividência, ao acordar esfreguei os olhos, bocejei, levantei-me, corri para a “casinha da rosa”, porque cá fora é desaconselhável deixar que brisa deslize pela fralda da camisa (se alguém ouvir, claro!), após o que ouvi uma vozinha dizer para algo dentro de mim:

– És um tolo, pá! Se queres escrever uma novela (que bata as do José Rodrigues dos Santos mailas do Miguel Sousa Tavares que, fundidos um no outro ou outro no um dariam um excelente escritor, pelo que é pena que não se fundam…) deves fazê-lo, sim, mas independentemente da tua actividade nas redes.

– Tá bem, pá! – replicou o algo dentro de mim para a tal vozinha – mas, então, como devo fazer nas redes?

– Simples, meu caro, muito simples. Quando escreves para lixar o José Rodrigues dos Santos e o Miguel Sousa Tavares, fechas-te a sete chaves e golpeias o teclado até não poderes mais e caíres para o lado, com pensamentos etéreos e frases de finíssimo recorte literário… Pensamentos que nem tu possas inteligir e frases que nem tu alguma vez terás a veleidade de conseguir ler, sem voltar atrás umas 59 vezes, acabando por passar à frente e… seja o que Deus quiser. Coisas que nem a hermenêutica desenrasque, pá!

– Tá bem… e depois? – quis saber o algo interior, suspenso de tamanho saber em vozinha tão fraquita.

– Keep cool! – é muito versada em línguas – e “auguenta os cavais” – mas também em expressões idiomáticas e de serventia rápida – Eu ensino-te como, é, mas tens de ter alguma calma, ok?

Como a vozinha tivesse (talvez, presumo eu, que não entendo bem essas coisas de vozinhas fraquinhas e algos interiores) acenado que sim, continuou:

– Quando escreveres nas redes, fá-lo levemente, em linguagem acessível, se necessário mesmo recorrendo ao XXXXX e mesmo à brejeirice, que dão mais sal à escrita. De outra maneira, ninguém te lerá. Vai por mim, que não ando cá por ver andar os eléctricos da Carris, pá!...

– Resumindo – atreveu-se o algo, na expectativa de que a vozinha o elucidasse de forma a que não restassem dúvidas. E não precisou de articular mais fosse o que fosse, porque a vozinha estava imparável, agora que tinha auditório certo e atento:

– Resumindo… e concluindo, escreve mais curto, mais incisivo, mais terra-a-terra, mais divertido ou, pira-te daqui e vai para debaixo da pedra de onde me parece teres saído – rematou definitiva, com uma agressividade que ninguém pensaria possível em vozinha tão sumidinha…

Tendo ouvido tudo isto, saí da “casa da rosinha”, mesmo sem tomar o banho que mandam os bons costumes e os maus odores se tome, pelo menos de trinta e um em trinta um dias (nos de 30 e no de 28, passa-se ao lado…), e fui anotar no caderninho que tenho bem guardado num esconso do meu lar (bonita e terna imagem, não?), para que ninguém o veja e me descubra as fraquezas, onde anotei o que fazer, tendo acrescentado (de minha lavra, imagine-se!) que deveria aderir também ao Twiter porque, pondo ao dispor da malta apenas 140 caracteres de cada vez, constitui um excelente treino para se meter todas as obras do Eça num dedal ou nada se escrever que se entenda…

E, assim, cá estou.

Creio ter ficado explicada “la raison d’être” dos meus quadros sintéticos, “au lieu de” textos de prosa muito elaborada.

Ah! Já me esquecia. Os quadros também se fundamentam num princípio dos antigos romanos que, nestas coisas são tremendamente úteis porque têm sempre um ditado que serve para explicar tudo. Abençoados romanos! Os antigos, claro, que os actuais deixam muito a desejar…..

Mas que princípio era esse? – perguntarão vocências. Simples, meus caros e caras. O de que “ridendo castigat mores”, ou seja, à letra, “rindo, se castiga comportamentos”, ou, mais explicado, é pelo riso que a gente os lixa!

2014Fev10
rvs

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